

Le Pen, inelegível, denuncia diante de simpatizantes em Paris uma 'decisão política'
A líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, chamou, neste domingo (6), sua condenação por desvio de fundos públicos como uma "decisão política" e prometeu não desistir, após uma sentença que a impede de participar das eleições presidenciais de 2027.
"Não vou desistir", declarou Le Pen aos simpatizantes de seu partido Reagrupamento Nacional, que lotaram a praça Vauban, com o pano de fundo da brilhante cúpula dourada dos Inválidos, um dos edifícios mais emblemáticos da capital francesa, que abriga o túmulo de Napoleão.
Diante da multidão que gritava "Marine, Marine" e agitava bandeiras francesas, Le Pen definiu como uma "caça às bruxas" a sentença de primeira instância que a torna inelegível.
Jordan Bardella, seu aliado e possível substituto, afirmou que a decisão judicial tinha como objetivo "eliminá-la da corrida presidencial".
Bardella, de 29 anos, enfatizou que não queria "desacreditar todos os juízes", mas a condenação é "um ataque direto à democracia e uma ferida para milhões de franceses patriotas".
A extrema direita tentou fazer uma demonstração de força depois que Le Pen, de 56 anos, foi declarada culpada na segunda-feira de desvio de fundos do Parlamento Europeu e condenada a uma pena de prisão parcialmente suspensa e à proibição de exercer cargos públicos.
Cerca de 7.000 pessoas participaram da manifestação, segundo fontes policiais.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, qualificou a sentença como "caça às bruxas" por parte de "esquerdistas europeus que utilizam a guerra legal para silenciar a liberdade de expressão e censurar sua oponente política".
- Manifestações de resposta -
Algumas agremiações de esquerda e o partido Renascimento do presidente centrista Emmanuel Macron organizaram manifestações independentes como resposta neste domingo.
No ato do Renascimento em Saint-Denis, um subúrbio operário ao norte de Paris, o ex-primeiro-ministro Gabriel Attal acusou a extrema direita de atacar os juízes e instituições franceses.
"Quem rouba, paga", disse em seu discurso Attal, e denunciou uma "interferência sem precedentes" nos assuntos franceses, apontando o apoio a Le Pen de figuras como Trump e o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban.
Estiveram também em Saint-Denis o primeiro-ministro François Bayrou e o ex-primeiro-ministro Édouard Philippe, que também aspira a se apresentar às eleições presidenciais de 2027.
Na Praça da República de Paris, onde foi realizado um ato convocado pelo França Insubmissa (LFI, esquerda radical) e o partido Ecologista, o coordenador do LFI, Manuel Bompard, disse que a extrema direita havia mostrado sua verdadeira face após anos de esforços para se consolidar.
"A extrema direita é um partido perigoso, perigoso para a democracia e perigoso para o Estado de direito", afirmou.
Várias pesquisas apontam que Le Pen seria a mais votada se as presidenciais ocorressem agora, mas a disputa iria para um segundo turno.
O Tribunal de Apelação de Paris indicou que examinaria o caso de Le Pen dentro de um prazo que poderia permitir a ela se apresentar às eleições se sua condenação for anulada ou se sua sentença for modificada.
Antes da manifestação, Le Pen se dirigiu por videochamada aos congressistas da Liga italiana, o partido anti-imigração de Matteo Salvini, e disse que seguiria "o exemplo de Martin Luther King, que defendeu os direitos civis" das minorias raciais nos Estados Unidos há meio século, porque "são os direitos civis dos franceses que hoje estão em questão".
T.A.Smith--RTC