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Aplicativo permite que indígenas da Amazônia enviem mensagens em seus idiomas
Aplicativo permite que indígenas da Amazônia enviem mensagens em seus idiomas / foto: Michael Dantas - AFP

Aplicativo permite que indígenas da Amazônia enviem mensagens em seus idiomas

Escrever mensagens em seus telefones foi, durante muito tempo, uma dor de cabeça para os povos indígenas da Amazônia. Agora, um aplicativo facilita a sua comunicação, ao colocar seus idiomas nativos ao seu alcance.

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Lançado em agosto de 2022, o "Linklado" — palavra formada pela combinação de "lin", em referência às línguas indígenas, e "klado", derivado da palavra "teclado" — disponibiliza um teclado digital adequado para populações indígenas que vivem em áreas remotas da imensa região amazônica ou em centros urbanos.

"O aplicativo Linklado traz assim muitas coisas boas pra mim e tantos pra povos indígenas", disse à AFP Cristina Quirino Mariano, de 30 anos, da comunidade ticuna.

"Facilita muito porque antes a gente não conseguia escrever no celular", explica, já que nestas comunidades nem todos dominam o português.

Nos smartphones vendidos no país, só é possível escrever mensagens com caracteres latinos.

Historicamente orais, as culturas indígenas do Brasil entraram no mundo escrito quando os colonizadores europeus procuraram transcrever suas línguas, especialmente para convertê-los ao cristianismo.

Na tentativa de reproduzir melhor os sons dessas línguas, foi necessário encontrar recursos específicos, associando os caracteres do alfabeto latino a um conjunto de acentos e símbolos, conhecidos como "diacríticos" pelos linguistas.

Mas até recentemente nada disso estava disponível nos celulares, indispensáveis para os cerca de 1,7 milhão de indígenas brasileiros, assim como para outros cidadãos do país.

Na falta de um teclado adequado, "os indígenas falavam muito no celular em áudio", explica Noemia Ishikawa, coordenadora do projeto Linklado.

Essa bióloga, de 51 anos, também teve dificuldades para traduzir seu trabalho de pesquisa: "Eu fiquei 14 anos reclamando que precisava de um teclado para resolver esse problema", afirma.

- Quatro dias -

Dois estudantes, nativos da região e não indígenas, atenderam ao seu pedido.

Juliano Portela tinha 17 anos e seu amigo Samuel Benzecry, 18. Alertado por Benzecry sobre as dificuldades que os nativos encontravam, Portela, que já havia aprendido a programar, começou a desenhar a ferramenta com o amigo.

"Demoramos quatro dias para criar o aplicativo, não imaginávamos que faríamos isso tão rápido", afirma Portela.

Os testes começaram em maio de 2022 e foi lançado gratuitamente em agosto do mesmo ano.

Hoje, "o aplicativo funciona para todas as línguas indígenas da Amazônia", ou seja, cerca de quarenta, comemora Portela, que agora estuda nos Estados Unidos, assim como Benzecry.

Até o momento, o aplicativo conta com mais de 3.000 downloads.

Mas, segundo Portela, tem mais usuários diários: "Para as fases de testes usamos um arquivo que enviamos via WhatsApp; alguns nativos enviaram o arquivo entre si antes mesmo do lançamento do aplicativo".

- Renda para as comunidades -

Além da comunicação diária, o aplicativo também permite a tradução de livros e outros textos do português para as línguas indígenas.

Isso permite que algumas mulheres destas comunidades gerem renda, utilizando o seu conhecimento das línguas locais. O projeto denominado "Linkladas" foi criado para reunir essas tradutoras.

Rosilda Cordeiro Da Silva, de 61 anos, é uma delas.

Para esta ex-professora de línguas indígenas, o aplicativo é algo "muito positivo" que lhe permite ter "mais confiança" na hora de fazer traduções.

Além disso, o aplicativo auxilia nos esforços de preservação das línguas indígenas.

Vanda Witoto, uma ativista de 35 anos, tenta "resgatar a língua buré", falada pelo seu povo witoto.

"Esse teclado tem dado a oportunidade da gente não utilizar aqueles símbolos que não são da nossa língua", diz ela.

Além da Amazônia, preservar as línguas nativas é um desafio global.

Metade está condenada a desaparecer até 2100, sendo a maioria línguas indígenas, segundo um relatório publicado pela ONU em 2018.

M.Allan--RTC