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Estrangeiros fogem e combates prosseguem no Sudão
Estrangeiros fogem e combates prosseguem no Sudão / foto: - - AFP

Estrangeiros fogem e combates prosseguem no Sudão

O êxodo em massa de estrangeiros prosseguia nesta segunda-feira (24) no Sudão, abalado por combates violentos entre o exército e um grupo paramilitar que já provocaram centenas de mortes, sem o vislumbre de uma solução para o conflito.

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As explosões e os tiros são ouvidos de modo incessante há 10 dias na capital sudanesa, Cartum, e em outras regiões do país africano, mas as potências internacionais conseguiram negociar com os dois lados beligerantes a retirada de funcionários diplomáticos e cidadãos.

"Aproveitamos uma pequena janela de oportunidade", disse um porta-voz do governo britânico.

"Com os combates intensos em Cartum e o fechamento do principal aeroporto" desde 15 de abril, dia em que os confrontos começaram, uma retirada maior era "impossível", acrescentou a fonte.

Mais de 1.000 cidadãos da União Europeia (UE) foram retirados do país, afirmou o chefe da diplomacia do bloco, Josep Borrell.

A Espanha anunciou a saída de 100 pessoas, incluindo espanhóis e latino-americanos.

O governo dos Estados Unidos retirou funcionários do serviço diplomático, menos de 100 pessoas, em helicópteros.

A China, importante sócio comercial do Sudão, também retirou um primeiro contingente de cidadãos que moravam no país africano.

Vários países árabes também anunciaram a saída de centenas de pessoas.

Um libanês que viajou de ônibus declarou à AFP que conseguiu sair apenas com "uma camisa e um pijama". "Foi tudo que restou de depois de 17 anos no Sudão", lamenta.

Em Cartum, "nós estávamos em estado de sítio", conta. Os mais de cinco milhões de habitantes da capital não têm serviço de água nem energia elétrica há vários dias. E os alimentos também estão em falta.

"Estávamos com medo de ficar doentes ou feridos nos combates", acrescenta o homem, de pé entre um grupo de famílias que abandonaram a capital. "Tudo foi destruído".

A violência no país do nordeste da África, de 45 milhões de habitantes, explodiu em 15 de abril entre o exército do general Abdel Fatah al Burhan, governante de fato do Sudão desde o golpe de Estado de 2021, e seu grande rival, o general Mohamed Hamdan Daglo, líder das paramilitares Forças de Apoio Rápido (FAR).

Mais de 420 pessoas morreram e 3.700 ficaram feridas até o momento, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A maioria dos estrangeiros retirados integra o serviço diplomático. Muitas pessoas continuam aguardando uma vaga nos comboios que partem para a cidade de Porto Sudão, às margens do Mar Vermelho, ou para as bases aéreas nos arredores de Cartum.

Muitos funcionários diplomáticos foram levados para o Djibouti, pequeno país da região do Chifre da África, que abriga muitas bases militares estrangeiras.

- Medo -

Enquanto os esforços para retirar os estrangeiros prossegue, a preocupação aumenta sobre o destino dos sudaneses bloqueados entre os combates.

"Temo por seu futuro", escreveu no Twitter o embaixador norueguês Endre Stiansen.

Os cinco milhões de habitantes de Cartum só têm um pensamento: abandonar a cidade, cenário de caos.

Os dois lados trocam acusações sobre ataques contra prisões para libertar centenas de detentos, assim como de roubos a casas e fábricas.

Também foram registrados confrontos nas proximidades de agências bancárias, que foram esvaziadas.

Em um país onde a inflação já supera três dígitos em períodos normais, o preço do arroz ou da gasolina atingiu níveis recordes.

E isto representa um grande problema, já que a gasolina é crucial para escapar dos combates: um veículo precisa de muito combustível para chegar ao vizinho Egito - 1.000 quilômetros ao norte -, onde milhares de sudaneses pretendem obter refúgio. Ou para chegar a Porto Sudão, 850 km ao leste da capital, onde esperam embarcar em um navio.

“À medida que os estrangeiros fogem, o impacto da violência em uma situação humanitária já crítica no Sudão é agravado", alertou a ONU.

No meio do fogo cruzado, as agências das Nações Unidas e outras organizações humanitárias suspenderam suas atividades no país.

Cinco trabalhadores humanitários - quatro deles da ONU - morreram e, de acordo com o sindicato dos médicos, quase 75% dos hospitais estão fora de serviço.

- A fome ameaça -

Os combates violentos entre as forças dos dois generais não apresentam sinais de trégua.

Os tiroteios são intensos na capital e seus arredores. Caças sobrevoam a região e os blindados paramilitares avançam.

A disputa entre Burhan e Daglo começou com os planos de integrar as FAR ao exército oficial, um requisito crucial do acordo para a restauração da democracia no Sudão após o golpe militar que derrubou o ditador Omar al Bashir em abril de 2019.

O Programa Mundial de Alimentos (PMA) advertiu que milhões de pessoas adicionais podem sofrer fome devido à violência, no terceiro maior país da África, onde em períodos normais um terço da população precisa de ajuda humanitária.

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L.Aitken--RTC