

A aflição dos militares trans nos EUA, ameaçados de expulsão por Trump
A coronel Bree Fram serviu no Exército dos Estados Unidos por 22 anos e nunca imaginou que poderia terminar a carreira assim: por uma ordem do presidente Donald Trump que proíbe pessoas transgênero nas forças armadas.
Durante a campanha eleitoral no ano passado, Trump criticou repetidamente a população trans e, ao assumir em janeiro, assinou uma ordem executiva declarando essas pessoas como não aptas para o serviço militar. O Pentágono anunciou que removerá os militares trans e evitará novos recrutamentos.
"Estou desolada pela perda, não apenas por mim, se chegar a esse ponto, mas por todos nós", declarou Fram, que falou com a AFP apenas em seu nome e cujas opiniões não refletem necessariamente as do Departamento de Defesa.
A proibição foi contestada nos tribunais, mas, a menos que um juiz emita em breve uma liminar, em poucas semanas começarão os procedimentos para encerrar antecipadamente a carreira de milhares de militares transgênero no país.
"Acredito que todos queremos poder tirar o uniforme no momento e lugar que escolhemos", disse Fram, uma engenheira de 45 anos que trabalhou por 18 na Força Aérea e depois foi transferida para a Força Espacial.
"Quando é o seu próprio governo que diz que você precisa tirá-lo porque de alguma forma não é apto para o serviço militar, é doloroso", acrescentou.
- "Melhor versão" -
As políticas sobre as pessoas trans no serviço militar sofreram um verdadeiro vaivém nos últimos anos, com os governos democratas defendendo sua autorização absoluta e o republicano Trump querendo excluí-las.
O Exército as permitiu pela primeira vez em 2016, durante o segundo mandato do democrata Barack Obama. Foi então que Fram declarou publicamente ser uma mulher trans.
Mas Trump assumiu o poder um ano depois e lançou suas primeiras medidas para proibi-las, com um tuíte em 2017 que caiu "como um raio", afirmou Fram. "A reação inicial foi de choque."
O democrata Joe Biden levantou as restrições em 2021, mas Trump foi reeleito no ano passado com a promessa clara de que voltaria a cortar seus direitos.
"Desta vez, foi mais como um furacão se aproximando da costa que você pode ver chegando", contou.
As restrições atuais são ainda mais rígidas e afetam tanto o pessoal transgênero que já serve abertamente no Exército como aqueles que querem sair do armário ou alistar-se.
"É um desafio quando sua identidade se torna algo político, porque as pessoas trans não estão quebradas. Não estamos pedindo a ninguém que nos conserte. Simplesmente estamos tentando alcançar a melhor versão de nós mesmos", declarou Fram.
- "Mesma oportunidade" -
Fram afirma que ser fiel a si mesma a torna melhor em seu trabalho.
"Eu realmente me tornei uma melhor comandante, melhor líder, ao fazer a transição e abraçar minha autenticidade e permitir que as pessoas ouvissem minha história, porque então elas queriam compartilhar as suas", disse.
O suboficial-chefe Ryan Goodell, um técnico em criptologia da Marinha de 32 anos, declarou-se trans em 2018, antes de entrarem em vigor as medidas do primeiro mandato de Trump.
As novas restrições não foram uma "surpresa", comenta. "Mas é decepcionante. Porque estou há 13 anos no cargo e planejava completar 20, pelo menos 20 para me aposentar."
Goodell - que, assim como Fram, conversou com a AFP a título pessoal, e cujas opiniões não refletem as do governo - pode ter que deixar a Marinha antes de estar pronto para isso, uma experiência que descreveu como "estressante".
Embora o governo afirme que as pessoas trans não estão aptas para trabalhar no Exército, "tivemos 10 anos de serviço que demonstram que as coisas ditas sobre nós são simplesmente falsas e não se baseiam em fatos de forma alguma", disse Goodell.
"Simplesmente pedimos a mesma oportunidade que nossos colegas cisgêneros têm, para demonstrar que não apenas estamos atendendo às expectativas que foram colocadas sobre nós, mas que, em alguns casos, as superamos", defendeu.
P.Batteux--RTC