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Jair Bolsonaro, o ex-presidente que virou réu por conspirar contra a democracia
Jair Bolsonaro, o ex-presidente que virou réu por conspirar contra a democracia / foto: Douglas Magno - AFP

Jair Bolsonaro, o ex-presidente que virou réu por conspirar contra a democracia

Ao longo de sua carreira política, manifestou nostalgia pela ditadura militar. No posto mais alto do Executivo, desafiou as instituições. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) agora pode ser condenado à prisão por uma suposta trama golpista.

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Com 70 anos recém-completados, o líder da oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e um dos expoentes da atual onda mundial de extrema direita clama inocência.

"A palavra 'golpe' jamais esteve no meu dicionário", disse certa vez o ex-capitão do Exército Brasileiro.

Apenas "conversei com auxiliares alternativas políticas para a Nação", afirmou em um texto divulgado através de seu canal no WhatsApp.

O "Mito", como é chamado por seus apoiadores mais fiéis, também se apresenta como vítima.

"Minha família foi perseguida, investigada e tripudiada nos meios de comunicação, sem dó nem piedade", postou nesta terça em mensagem a apoiadores no WhatsApp.

Apesar dos protestos, Bolsonaro se sentará no banco dos réus, acusado de conspirar para impedir a posse de Lula, para quem perdeu as eleições em 2022.

Ele pode ser condenado a 40 anos de prisão, o que se somaria à sua inelegibilidade por disseminar desinformação sobre o sistema eletrônico de votação no Brasil.

Apesar disso, ainda sem um sucessor definido na direita, Bolsonaro se nega a jogar a toalha: "Por enquanto, eu sou candidato" às eleições de 2026, garante.

- Política em família -

Jair Bolsonaro chegou ao poder em 2019, dizendo ser um "outsider" da política, apesar de ter sido eleito deputado federal por quase três décadas.

Ele nunca se posicionou contra os anos de chumbo da ditadura militar (1964-1985), cujo erro, segundo ele, "foi torturar e não matar" os dissidentes.

Essa declaração, anterior ao seu mandato na Presidência, ilustra seu estilo disruptivo, também caracterizado por comentários misóginos, racistas e homofóbicos.

Nascido em 21 de março de 1955 em Glicério, no interior de São Paulo, em uma família de origem italiana, Bolsonaro teve cinco filhos com três mulheres diferentes.

Os quatro primeiros — todos homens — entraram para a política. Sobre a quinta e única filha mulher, Laura, disse que foi fruto de uma "fraquejada".

Com os filhos e sua atual esposa, Michelle — uma evangélica convicta, 27 anos mais jovem que ele, que se define como católico — forma hoje um clã altamente ativo, especialmente nas redes sociais.

Depois de uma carreira militar marcada por episódios de insubordinação, Bolsonaro foi eleito deputado desde 1991.

Com pouco destaque no Parlamento, saiu das sombras depois do impeachment em 2016 da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), herdeira política de Lula.

Seus discursos inflamados contra a corrupção, a violência, a crise econômica e a esquerda "podre" seduziram o eleitorado.

Populista de fala simples, que aparece em público vestindo bermuda e camisa de futebol, mostrou habilidade ao conseguir o apoio dos poderosos lobbies do agronegócio e da bancada evangélica.

Durante a campanha presidencial de 2018, sofreu um atentado a faca durante um comício, que lhe deixou sequelas no abdome.

- 700 mil mortes por covid -

Embora tenha prometido "restabelecer a ordem" durante sua posse, seu mandato (2019-2022) foi marcado por crises, apesar de um balanço econômico relativamente positivo.

Considerada desastrosa pelos especialistas, sua gestão da pandemia de covid-19 levou a intensos confrontos com o Supremo Tribunal Federal (STF).

Bolsonaro chamou de simples "gripezinha" o vírus que causou cerca de 700 mil mortes no Brasil, se opôs ao confinamento, ao uso de máscaras e ironizou sobre as vacinas que, segundo ele, poderiam transformar quem as tomasse em "jacaré".

Cético do clima, permitiu que o desmatamento disparasse na Amazônia durante seu mandato. Não hesitou em insultar líderes estrangeiros, incluindo o presidente francês, Emmanuel Macron, e deixou o Brasil isolado no cenário internacional.

No segundo turno das eleições de 2022, marcadas pela desinformação, Bolsonaro perdeu por uma margem bem pequena para Lula.

Viajou para a Flórida a dois dias do fim de seu mandato e antes que, em 8 de janeiro de 2023, milhares de seus simpatizantes invadissem e depredassem as sedes dos Três Poderes, em Brasília, pedindo uma intervenção militar contra Lula.

Para a acusação, esses distúrbios foram parte da trama golpista, que também teria contemplado o assassinato de seu adversário.

Embora seja a mais grave, esta não é a única investigação contra Bolsonaro, alvo da Justiça por supostamente falsificar certificados de vacinação da covid e desviar joias recebidas de presente durante sua presidência.

Enquanto o cerco judicial se fecha cada vez mais em torno dele, o ex-presidente diz ter uma carta na manga: a "influência" de seu "amigo" Donald Trump, que considera Bolsonaro um "grande cavalheiro".

D.Nelson--RTC