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Quando fezes se tornam medicamentos
Quando fezes se tornam medicamentos / foto: Patrick T. Fallon - AFP/Arquivos

Quando fezes se tornam medicamentos

As empresas biofarmacêuticas estão desenvolvendo cada vez mais fármacos à base de matéria fecal, aproveitando os bilhões de microrganismos que habitam o intestino humano.

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A companhia biotecnológica francesa MaaT Pharma tem uma nova fábrica na região de Lyon, a maior da Europa dedicada exclusivamente a medicamentos baseados na microbiota encontrada na matéria fecal.

O objetivo é melhorar a sobrevivência dos pacientes com câncer e sua resposta às imunoterapias, restaurando sua microbiota danificada pelos tratamentos intensivos.

A planta está trabalhando em um medicamento chamado MaaT013, atualmente em fase final de ensaios clínicos, para tratar uma doença rara de rejeição que ocorre após um transplante de células-mãe em cânceres do sangue e que pode provocar a morte.

Os primeiros resultados do ensaio são esperados para meados de 2024, mas o remédio já está disponível em vários países europeus para pessoas que precisam com urgência.

A farmacêutica espera comercializar 9.000 doses por ano deste medicamento.

A empresa recebe os excrementos em uma espécie de penico hermético, fornecido por uma empresa de coleta na região de Nantes.

A matéria fecal chega de trem e caminhão à planta, em caixas criogênicas a 5 °C, e é processada em até 72 horas depois de ter sido produzida.

O objetivo é misturar as fezes dos doadores para obter a chamada “medula substancial”, uma microbiota rica e variada que depois é injetada nos pacientes no hospital por via retal, como um enema, para recolonizar seu sistema digestivo e restaurar sua microbiota alterada.

- Doadores -

De 3.000 voluntários que preenchem o formulário para fazer uma doação de matéria fecal, “apenas 30 atendem aos critérios de boa saúde digestiva e mental”, explica a responsável de produção da fábrica, Cécile Billa-Nys, que lembra que existe um vínculo entre a saúde mental e a microbiota.

“É como para a doação de sangue, mas um pouco mais avançado”, aponta.

Os doadores, recrutados por meio das redes sociais e em campi universitários algumas semanas antes do início da produção, devem se submeter, para receber uma compensação, a “análises de sangue a cada 60 dias e análises diárias de fezes”.

“São verificados 25 parâmetros patógenos diferentes” no excremento, explica Caroline Schwintner, diretora de desenvolvimento tecnológico da MaaT Pharma.

Também verificam a rastreabilidade, a consistência e o aspecto visual do material biológico e depois adicionam um diluente para proteger as bactérias durante o congelamento.

A substância é distribuída em bolsas, que são colocadas em uma incubadora a 5 °C e então congeladas.

A farmacêutica também está estudando a possibilidade de colocar o medicamento em cápsulas (MaaT033) para melhorar a sobrevivência de pacientes com cânceres do sangue e com a doença de Charcot.

Outras biotecnologias francesas estão interessadas neste novo horizonte terapêutico.

A Exeliom Biosciences está desenvolvendo um fármaco que explora as propriedades antiinflamatórias da Faecalibacterium prausnitzii, considerada a “bactéria estrela do intestino”.

L.Aitken--RTC